segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Soneto do amor de Judas Iscariotes

Aqui marcada fui com dedos quentes.
Aqui, onde o silêncio é como a tarde.
Aqui, onde os outeiros pensam longe.
Aqui marcada fui, e ainda arde.

Aqui talvez os pés se elevassem
em vez de se afundarem sob a terra.
De timidez em tumidez, vão longe
os dedos mal roçados de saudade.

No tronco de outro tempo andava escrito;
nos galhos de outro espaço demarcado:
o corpo sem fervor tem vida breve.

O rosto é de rapaz, e é tão bonito!
No tronco o peso dele ainda é leve...
Aqui jaz toda tarde um enforcado.

Luis Gustavo

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