domingo, 11 de junho de 2017

- J'aimerai bien voir par tes yeux.

- Ça marche... Ici. Un cadeau.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Los perros soñolientos

En Chile hay calles donde el árbol es como un paráguas: sus hojas negras abiertas bajo el cielo azur mientras llueve. Dos viejos descubren entre ellos el primer beso y las puntitas de los pies suponen volar. Por cada vaso lleno de agua un edifício brota de la tierra y engendra un pájaro en que todos intuimos la melancolia. En cada corner sé que hay perros soñolientos, pasos acercandose y un rumor del azar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Imagens

Estou preso a algumas imagens. Por exemplo: a de um vira-lata sentado no meio da rua; a de um fio de água que desce pelo meio-fio; a de um berço vazio; os jardins da Chácara do Céu, no alto de Santa Tereza, vistos por quem está na sala maior da casa grande; o quadro de René Magritte em que chovem homens de chapéu-coco. Deslocar-me entre estas imagens e ainda outras, no entanto, não tem me levado a lugar algum. Porque, de fato, estou preso dentro de cada uma delas. E como se tivesse os olhos tapados, feito os animais de carga, não consigo entrever nada da passagem entre uma e outra. Nessa passagem, quem sabe, haverá uma exposição com outras imagens. Talvez haja uma plateia que se diverte com o meu trânsito eternamente repetido. Se bem que, por outro lado, posso variar a sequência das imagens. E sinto até que posso montar a ordem do dia. Ou da noite. Em cada montagem, sei que devo cortar os negativos e, em cada corte, sei que um pouco do negativo se perde. Outro dia, perdi o rabo do cachorro e a água no meio-fio já não tinha onde vazar. De pouco em pouco o meu filme, também, fica roto. O embaço-sobre-azul é como uma cegueira lenta, em que a luz predomina sobre as sombras, perde detalhes e distorce de tal forma a imagem registrada que a torna coisa diversa. Acredito que, se tomasse os negativos em sua primeira forma, ainda intactos, e os comparasse com suas futuras reproduções dia após dia até chegar aos originais que hoje vejo, teria o curta-metragem do envelhecimento. E, muito de perto, muito atenciosamente, quem sabe talvez pudesse ver como a passagem e a sucessão distorcem um mesmo objeto. Quem sonha ou observa jamais intervém no objeto, mas pela prática e pelo artíficio é capaz de perceber mais seus detalhes e distorções. Estou preso a algumas imagens. Por exemplo: a de um cão sentado no canto da rua; a de um berço que balança; os jardins mal cuidados da Chácara do Céu, no alto de Santa Tereza, vistos por quem a eles regressa; o quadro de René Magritte em que chovem homens-chapéu-coco.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

POEMAS DA VACA

    Retrato feito em Cássia, interior de Minas Gerais, à beira do Rio Grande. 28/dez/2016.

A seguir, seguem os POEMAS DA VACA, escritos faz pouco e ainda quentes, como a bosta desses gentis bovinos.








A vaca enfim
olhou pra mim.

HAIKAI

Contra sisudez
só a nudez
da velha Yambe.

DE MANHÃ

Dar ao papel em branco
o frescor da manhã
e o silêncio da vaca.

À aspereza do papel,
a luz indireta e o pasto infinito,
a calma infinita da vaca .

Digerir a manhã
como a vaca digere
a partida do bezerro
e a ausência irreparável
de ciência e conclusão.

A VACA SEMPRE ESTÁ DE QUATRO

A vaca sempre está de quatro:
antes do coito quer o muito,
depois de tudo quer o oito,
como arranhasse o quarto-mato.

Não é que a vaca seja o prato
onde outro boi pastasse, afoito:
a vaca quer o vero beijo-coito,
o abraço mesmo, o entreato.

Carinhos e sussuros de um mugido...
e sonhos ditos,
ah, sonhos ruminados!

Acender a luminária das estrelas,
enquanto mete os óculos de acetato
para os romances e protestos
esquecidos sobre a penteadeira.

E antigos, ah!
Antigos retratos.

A VACA PRETA

A vaca preta
de óculos brancos
foi ao divã.

Ei-la reclinada e desperta
ante o psicólogo improvável.

O homenzinho ofereceu-lhe
um cigarro, dois, três
- Café?
- Não.

Tirou o casaco
fazia calor.

E a vaca deitada
- as tetas de fora,
sobressalentes -
nada aceitava.

Discretos, delicados
os olhos do doutor
sem querer, confessavam
por querer, refletiam
o desejo que as tetas da vaca
penduravam em gotas de leite.

AS TETAS DA VACA
nada mais tem a espessura
das tetas da vaca: os lábios
é que sabem quanto custa
prendê-las.