quinta-feira, 28 de julho de 2016

Billie Jean

Pensei nesta gravação enquanto atravessava o viaduto Santa Efigênia.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Antiguidades ou cacos modernos

Eu que sempre andei com gatos persas, com o mesmo vigor desconfiei dos siameses. Sobretudo quando andavam aos pares e, simétricos, descreviam no caminhar diante de mim diagonais. Era assim: bastava que eu entrasse na sala e os siameses, cada qual, deslocavam-se dos cantos superiores esquerdo e direito, em trajetória diagonal. Quando cruzavam-se no meio do cômodo, apenas eu os notava. A família assistia à televisão.

Era tarde já e o acordeon do avô estava sobre o armário de seu quarto. Meu avô dormia. E o cheiro da velhice anunciava um silêncio opaco, que sua respiração agravava ainda mais. A cama, o colchão, o criado-mudo, todas as coisas ali eram velhas, como meu avô. Nas venezianas de ferro oxidado o vento era filtrado. Desconfio que trazia menos notícias de fora do que levava as de dentro de seu quarto: os arredores, as hortaliças, os jardins, as fazendas e o universo todo talvez desconfiassem, na entrada da noite, da velhice e do cheiro de meu avô.

Algumas vezes acordei com a cama molhada e, pensando bem e sem pudor, o calor do mijo trazia-me certa paz e uma forma curiosa de afeto. Algumas vezes dormia com os jeans apertados e podia resgatar, ainda mais, a infância presente, no futuro perdida. Algumas vezes, no entanto, de calcinha e camisola, eu carregava para a cama as formigas tanajuras que recolhera durante a tarde; acendia fogo nas cascas de laranja, que minha intuição adivinhava incensadas; e passava frio.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

FODA-SE

Tenho apertado o botão do FODA-SE tantas vezes que acho que ele está quebrado.

sábado, 2 de julho de 2016

RECONTANDO UMA HISTÓRIA QUE OUVI

Um rei persa era, justamente ele, o sujeito mais melancólico de todo o reinado. Aborrecido com tanta tristeza, despachou seus capangas por toda a península a fim de achar alguém que fosse realmente feliz. Durante meses não acharam ninguém. Mas eis que encontram no meio do deserto um pastor, que mais lhes parecia um pobre diabo, arrebanhando suas cabras. Perguntam-lhe:

- És feliz?
- Sim, sou feliz.
- Do que precisas para ser feliz?
- De nada. Não preciso de nada.
- Então faz favor de emprestar tua camisa ao rei, para que ele também seja feliz.
- Não tenho, nem preciso de camisa.