quinta-feira, 30 de outubro de 2014

FROM THE HEART

A bit of Beatles
or would it be
a beat of bird?

O, let it be!


domingo, 26 de outubro de 2014

Sit right here beside me and help me to cry. Do you see that one bird crossing alone darkness to a higher sky? For its feathers are also dark. What it intends to be its onslaught but a fugue from its first color? O, color, you may say, is something else. An allegory. It's not.

área core

Sei que na área core espera-nos uma resposta. Tímida, ansiosa por chegar aos lábios silenciosos. Nada dirá de nossas roupas, de nossos sapatos já gastos. Embora saiba, como nós a sabemos, que tal foi nosso caminho. Que não descansaram os dedos, ainda que apertadas as sacolas em que trazíamos pedras antigas. Adivinhará, imagino, o nome do animal que nos entregou as tais pedras. E aqueles que deixaram sinais no chão, nos galhos e arbustos. Não eram índios; antes era deles a sombra detida sobre quatro patas e pássaros. Ainda naquela cidade, onde os pássaros convidam a um céu de chumbo. Sei que nos espera a resposta, a resposta, a difícil e vidente resposta. Ó lentos, alheios poderes do láudano.

Luis Gustavo

Noturno

Das muitas crises que trago, a ti esta anuncio:
na branca espuma das águas baterás com a morte.

Dos mestres-salas dos mares o grego arredio
contra a benção nagô, contra os dados da sorte.

Tuas penugens de sal e a turgidez dos umbigos
verás quantas mulheres, qual foi a consorte.

Teus braços, trinca e tridente de um deus mar bravio,
vão quebrar-se nas águas, nas águas do norte.

Luis Gustavo

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O filho

Estou grávido de um filho que jamais darei à luz. Seu esqueleto foi montado com o mesmo oco das salas vazias, seu corpo foi predito nas aulas de anatomia, seus olhos são duas esferas luminosas defletindo o escuro do pai. Meu rebento não virá ao mundo, e já fala outra língua. Não é que seja a língua dos anjos, mas tem algo de sagrado nela, de ferino nela, de desumano nela, que é cortante, ardente, e que em dois sussurros se poderia fingir ter aprendido. Ao contar os dias de sua morada, dei-lhe em sonho um nome que, acordado, ainda não pude decifrar. Não estou certo do sexo, nem do tamanho dos pés, nem das mãos, nem do número de dedos; mas sei que há nele um gênio que lâmpada alguma poderia dar à luz. Em sonho nossos dois sonhos se confundem e, trocando de plano, partimos de mãos dadas rumo outro sonho abissal.

Luis Gustavo

sábado, 18 de outubro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Soneto do amor de Judas Iscariotes

Aqui marcada fui com dedos quentes.
Aqui, onde o silêncio é como a tarde.
Aqui, onde os outeiros pensam longe.
Aqui marcada fui, e ainda arde.

Aqui talvez os pés se elevassem
em vez de se afundarem sob a terra.
De timidez em tumidez, vão longe
os dedos mal roçados de saudade.

No tronco de outro tempo andava escrito;
nos galhos de outro espaço demarcado:
o corpo sem fervor tem vida breve.

O rosto é de rapaz, e é tão bonito!
No tronco o peso dele ainda é leve...
Aqui jaz toda tarde um enforcado.

Luis Gustavo

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A solidão do soldado

A solidão do soldado

Nem adianta espernear:
mais cedo ou mais tarde
a solidão colhe todo boneco
e põe cada qual no seu canto.

luis gustavo