quinta-feira, 30 de junho de 2016

Quanto mistério há nos narizes: torcei-os à vontade! Já os braços não; os braços, os mais fortes até, são delicados e quebram fácil, fácil. Então, jamais dai o braço a torcer. Eis a que resumo a minha filosofia.

domingo, 12 de junho de 2016

Kothbiro [a chuva já vem]

Hah
Haye haye
haye haye 
haye haye

Auma, não escuta o que digo?
A chuva já vem,
traz o gado pra casa!

Chame as crianças.
Que você acha está fazendo?
A chuva já vem,
traz o gado pra casa!

Tradução: Luis Gustavo Cardoso

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Um girassol da cor de seu cabelo

Aquele sol entrava pela janela de meu quarto: circumperfeito, aberto, direto, claro, quente. As entradas da veneziana permitiam a passagem de outros fios, como se fios de cabelo se anunciassem na atmosfera do quarto. Era uma edícula para o quintal e eu lia Os sonhos não envelhecem e ouvia, como um louco, febril, o disco do Clube da Esquina. Não quero atribuir sentido à história, o sentido está no disco e naquelas tardes inteiras, desfiadas entre o livro de Márcio Borges e o disco. Mas ali eu já pensava - e por isso sentia - muita coisa. Muita coisa determinante, definitiva. Era como se eu tomasse um trem. E a esse êxtase, em que se fundem o gozo estético, a pergunta fundamental sobre quem somos, os amores pretéritos presentes futuros, os sempre-amores, os amigos, somava-se uma calmaria, uma tranquilidade, um não passar das horas. Nem sempre temos horas assim. Da cozinha, da copa, da sala, dos corredores, dos quartos, Maria e Zenaide vigiavam meu sono quieto. Secretamente zelavam por meu distante, sonoro, ensolarado casulo.



quinta-feira, 2 de junho de 2016

Previdente

Não é bem questão de saber se
nem bem questão de saber quando
a questão é só bem saber bem
de qual andar hei de soltar o corpo.