quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Intervalo

Fiz meu mais suave gesto de “infelizmente...” e desviei o olhar pro outro lado, o da rua, onde a muvuca escoava espessa em mão dupla. Táxis, viaturas, carangas turbinadas de garotões, som a mil, só pagode, bate-estaca clubber e hip-hop de mano. E um cortejo de pedestres onde se destacavam universitários descolados de classe média e uma garotada estilosa, neopunks, neo-hippies, neoemos, neoqualquer-merda, uma caterva nova que deu de frequentar a Augusta duns tempos pra cá. Sei lá. Não acho que essa gente combine muito com a putaria, que, para eles, é só um cenário urbano “radical”, ou merda assim. Duvido que alguém ali trace as putas. De qualquer jeito, ainda tinha muita puta desfilando pernas e peitos, bundas e caras pelas calçadas, entrando e saindo dos bútis e inferninhos, confabulando em grupinhos de três ou quatro, ou sozinhas esperando seus clientes nas calçadas, a velha e boa putaria do caralho.

Reinaldo Moraes, in Pornopopeia

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