domingo, 23 de agosto de 2015

Já em agosto

Cette chose qu'on appelle 'exquise'.

Disse a mim mesmo que não voltaria ao corner onde vivíamos tropeçando um no outro. A lama na poça d'água, o lodo nas pedras antigas e o cheiro de umidade da rua da escola eram como que um aviso - e um ímã - para a queda. Ainda assim, os transeuntes passavam por ali. Eu mesmo, antes de topar com você, já tinha reparado nos óculos, nos olhos escuros, nos cabelos e nos dentes tão brancos. Recendidos na quase-noite, cheirando à hortelã que meu avô plantava, entre hortaliças do quintal de sua casa. Sobretudo quando a chuva varria leve nossos quintais: aí então o cheiro da hortelã atravessava o portal enferrujado para tomar todo o bairro. Chego a pensar que esse odor tenha conhecido ou pelo menos compartilhado da umidade das pedras daqui. Estamos longe de tudo, onde quer que estejamos. Se de repente chovesse, talvez pudesse associar o branco de seus dentes com os perfumes que meu avô, talvez o soubesse, fabricava. Sei que venho de uma linhagem de homens tiranos e mulheres inquietas. Mas eu sempre desconfiei que a tirania fosse um vislumbre estético da vida, e que a inquietude fosse uma desconfiança da passagem dela. Desligadas, todas essas coisas se misturam num borrão de nuvens. Como a barra da saia da chuva sobre a terra, vista de cima, de onde se agitam os cordões que nos colocaram, certo dia, na mesma esquina.

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