quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

POEMAS DA VACA

    Retrato feito em Cássia, interior de Minas Gerais, à beira do Rio Grande. 28/dez/2016.

A seguir, seguem os POEMAS DA VACA, escritos faz pouco e ainda quentes, como a bosta desses gentis bovinos.








A vaca enfim
olhou pra mim.

HAIKAI

Contra sisudez
só a nudez
da velha Yambe.

DE MANHÃ

Dar ao papel em branco
o frescor da manhã
e o silêncio da vaca.

À aspereza do papel,
a luz indireta e o pasto infinito,
a calma infinita da vaca .

Digerir a manhã
como a vaca digere
a partida do bezerro
e a ausência irreparável
de ciência e conclusão.

A VACA SEMPRE ESTÁ DE QUATRO

A vaca sempre está de quatro:
antes do coito quer o muito,
depois de tudo quer o oito,
como arranhasse o quarto-mato.

Não é que a vaca seja o prato
onde outro boi pastasse, afoito:
a vaca quer o vero beijo-coito,
o abraço mesmo, o entreato.

Carinhos e sussuros de um mugido...
e sonhos ditos,
ah, sonhos ruminados!

Acender a luminária das estrelas,
enquanto mete os óculos de acetato
para os romances e protestos
esquecidos sobre a penteadeira.

E antigos, ah!
Antigos retratos.

A VACA PRETA

A vaca preta
de óculos brancos
foi ao divã.

Ei-la reclinada e desperta
ante o psicólogo improvável.

O homenzinho ofereceu-lhe
um cigarro, dois, três
- Café?
- Não.

Tirou o casaco
fazia calor.

E a vaca deitada
- as tetas de fora,
sobressalentes -
nada aceitava.

Discretos, delicados
os olhos do doutor
sem querer, confessavam
por querer, refletiam
o desejo que as tetas da vaca
penduravam em gotas de leite.

AS TETAS DA VACA
nada mais tem a espessura
das tetas da vaca: os lábios
é que sabem quanto custa
prendê-las.

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