segunda-feira, 23 de maio de 2016

relato de viagem

Entre o mandarim e o grego um medo sem fim. há muito tempo mandei-me de aqui. outro dia anunciaram um navio e meteram-me nele. desertos atravessam-me mas nada nada nada calou mais fundo do que a água parada do mar morto, donde vieram os espíritos inquietos. puseram sobre minha cabeça uma coroa de espinhos. uma senhorinha já depois dos quarenta desceu-me as calças. a multidão chorava. subi o cáucaso até onde me disseram que havia moiras. e soltaram os seios no tempo. eram negras, beduínas, ruivas, camponesas. deram-me o leite de cabra e apontaram-me os campos sem lavra. chovia, fazia frio em são paulo. senti de longe que me escrevias esta carta de despedida. eram os cães que você enterrara no quintal. pedi em sofia que lhes rezassem uma missa. tomei uma aeronave de cujos assentos me olhavam crianças e velhos dados como perdidos. e não sei bem se a comissária oferecia-me whisky ou lições de romeno. os caixilhos de som tocavam bach e estávamos todos no céu. quando abri os olhos, mirava as torres de burma enquanto o balão descia. fui à praia de baía cerrada e alto-mar. dispersas, conchas anunciavam a entrada do castelo. toquei a areia das muradas e eram teus seios firmes que se desfaziam, em minhas mãos, como o sal no sargaço e as pipas no vento.

Luis Gustavo

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