segunda-feira, 25 de maio de 2015

O HOMEM SIMPLÓRIO




A simplicidade, essa solteirona risonha e corada que se encontra em qualquer canto do Brasil, tornou-se uma espécie de reguladora dos padrões morais camponeses que se meteram, desde cedo, em nossas cidades. A mudança de valores rurais para o meio urbano trouxe, na sacola do caipira, uma modalidade curiosa do que ele chama de "humildade". Estou falando no caipira mas, é óbvio, poderíamos tratar assim de muitos camponeses. É o que acontece com personagens como FIÓDOR PAVLÓVITCH KARAMÁZOV, de DOSTOIÉVSKI. A "humildade" camponesa é motivo de orgulho, o que pode soar um contrassenso. Mas é assim mesmo: o homem simplório e humilde tem orgulho de sê-lo, a escola da vida lhe deu a lição e, se por acaso topa com alguém que detém detalhes mais acurados sobre determinado assunto, tirados, além da experiência, do esforço lógico sistemático, seu orgulho pode ser facilmente ferido. E então retruca: ora, mas resumindo é isto que você quer dizer..., sem atinar que, certas coisas, se resumidas na forma, são reduzidas no conteúdo. Como ocorre com o velho KARAMÁZOV, o nosso homem tem orgulho de ser, mais do que simples, simplório. Mas há nele, sim, uma complexidade, talhada tosca em madeira antiga, uma complexidade humana difícil de apreender e que só pode ser mesmo objeto de um grande escultor e de uma grande literatura: o pendor para ofender-se. O homem que se ofende fácil demais é porque é orgulhoso demais, simplório  demais e difícil demais: mais difícil, mais simplório e mais orgulhoso do que ele próprio imagina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário