Jamais mostres teu poema a um dinossauro. O tronco vergado e a boca que rumina o denunciam. Está sentado sobre a idade da pedra e tem preguiça de levantar-se. O pescoço é um torcicolo e, na procura da carne, não vê coração. Se lhe entregas teus escritos num papel-carta, não lhe cabe nas mãos.
Pensa bem: o couro é grosso. Olha só: tem as unhas limadas. Imagina: o hálito de dragão. E a língua comprida, nem se fala. Os olhos de sempre-amarelo-hepatite.
Jamais mostres teu poema a um dinossauro. Nem lhe reveles teus sentimentos: o que fabricas noite adentro, os livros que lês, os discos que colecionas, tuas fábulas e alusões.
O dinossauro é, desde tempos imemoriais, uma besta especializada.
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