Retrato feito em Cássia, interior de Minas Gerais, à beira do Rio Grande. 28/dez/2016.
A seguir, seguem os POEMAS DA VACA, escritos faz pouco e ainda quentes, como a bosta desses gentis bovinos.
A vaca enfim
olhou pra mim.
HAIKAI
Contra sisudez
só a nudez
da velha Yambe.
DE MANHÃ
Dar ao papel em branco
o frescor da manhã
e o silêncio da vaca.
À aspereza do papel,
a luz indireta e o pasto infinito,
a calma infinita da vaca .
Digerir a manhã
como a vaca digere
a partida do bezerro
e a ausência irreparável
de ciência e conclusão.
A VACA SEMPRE ESTÁ DE QUATRO
A vaca sempre está de quatro:
antes do coito quer o muito,
depois de tudo quer o oito,
como arranhasse o quarto-mato.
Não é que a vaca seja o prato
onde outro boi pastasse, afoito:
a vaca quer o vero beijo-coito,
o abraço mesmo, o entreato.
Carinhos e sussuros de um mugido...
e sonhos ditos,
ah, sonhos ruminados!
Acender a luminária das estrelas,
enquanto mete os óculos de acetato
para os romances e protestos
esquecidos sobre a penteadeira.
E antigos, ah!
Antigos retratos.
A VACA PRETA
A vaca preta
de óculos brancos
foi ao divã.
Ei-la reclinada e desperta
ante o psicólogo improvável.
O homenzinho ofereceu-lhe
um cigarro, dois, três
- Café?
- Não.
Tirou o casaco
fazia calor.
E a vaca deitada
- as tetas de fora,
sobressalentes -
nada aceitava.
Discretos, delicados
os olhos do doutor
sem querer, confessavam
por querer, refletiam
o desejo que as tetas da vaca
penduravam em gotas de leite.
AS TETAS DA VACA
nada mais tem a espessura
das tetas da vaca: os lábios
é que sabem quanto custa
prendê-las.
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