Escritor engajado insiste em fazer pose para a foto.
Pose de intelectual.
Gente séria.
Comprometida.
Engajada.
Aquele jeito de quem sabe
as dores do mundo
tem consciência de classe
não negou jamais a sua identidade
e reconhece
- o riso superior mal disfarçado é a prova -
sua condição de privilegiado.
Escritor engajado é outra história.
Faz questão de botar aquele silêncio obsceno
em cima da mesa das suas comadres.
Mas ao chegar em casa é o primeiro
a encher de queixas o gato no sofá e
a vizinhança inteira.
O escritor engajado anda pelos
muquifos da cidade grande
onde recusa beber com os cachaceiros locais
e vai ao interior espairecer as ideias
na condição de recluso
mal compreendido.
Lá na fazenda dos bichos
onde a luta de classes dá um tempo
e impera a boa e velha servidão
que traz ao escritor engajado
o leite e o queijo frescos.
O escritor engajado não prefere gênero
escreve em transversais
e jamais adotaria um poema natural.
O seu trabalho é seguir
entre jargões não analisados
as pistas do seu psicanalista.
O escritor engajado não tem
amor ao próximo,
só ao próximo da fila
de seus adoradores
colegas, cupinchas,
todos maus escritores
como ele.
Mas o que importa?
São engajados.
Luis Gustavo Cardoso