Veio aqui uma mulher. Batia à
porta e me chamava. A voz era dura, seca, frágil. Entre o escritório e o
corredor ouvi seus punhos sacudindo um pingente e as pulseiras pesadas, os pés
colados no chão. Não a conheci nem de primeira nem de segunda vista, mas ela
sabia meu nome. Quem lhe emprestara a informação? Rua, prenome, casa, vida.
Nada mais dizendo. Os olhos mansos entraram pela sala e ignoraram as estantes,
o Kandinsky, a poltrona e um cinzeiro vazio. Mal tinha passado a chave na
porta, me virei e ela estava nua: só de sapatilhas. Pôs-se de costas, apoiou os
cotovelos na cauda do piano e me disse, oferecendo do rosto o perfil:
- Vem.